Expedição Patagônia

Sim, mais uma vez lá íamos nós para mais uma empreitada. Impulsionados pelo desafio, buscávamos algo novo e nada melhor e mais emocionante do que uma grande viagem.

Infelizmente, mais uma vez, as fotos não estão em ordem cronológica como os pequenos relatos, mas ilustram muito bem as aventuras ao longo deste ano de muitas montanhas, rios, desertos e estradas...

Fortaleza, Dezembro de 1999, chegava ao fim uma temporada de quase um ano rodando o Estado do Ceará atrás da praia perfeita. Não satisfeitos com a aventura, empreendemos rumo ao mais novo objetivo. Uma viagem a bordo de um veículo 4x4 de volta à Patagônia. Sim, seria um desafio ainda maior, mas não impossível... Afinal, já tínhamos vivido em Bariloche por três anos, foram muitas experiências, aprendizados, vitórias e amizades que perduram até hoje.

Desta vez, o ponto de partida era Petrópolis. Pouco tempo teríamos para encontrar um veículo confiável e fazer as revisões necessárias. Enquanto isso o planejamento era prioridade. Telefonemas, mapas, compras e tudo mais para uma viagem de um ano totalmente sem patrocínio. Seriam mais de 5.700km apenas para ir, mesmo sem tempo e com os recursos limitados. Ao retornar teríamos ultrapassado os 18.400km.

Encontrado o carro, feitas as revisões, partimos. Destino? San Carlos de Bariloche, Patagônia Argentina. Em média foram 650km/dia em 10 dias de estrada por rotas alternativas e visitando muitos amigos. Levamos quase dois meses para chegar e 22 dias para voltar, foram várias histórias, aventuras e surpresas. Aqui, apenas alguns fragmentos...

Caraguatatuba, 10/05/00. 7:00h, saímos com os primeiros raios de sol e aos 15 minutos paramos no posto de combustível para abastecer e fazer o check up do carro e ao levantar a tampa do capô me deparo com os filtros de óleo diesel pendurados pela mangueira. Numa fração de segundo me lembro das condições precárias da estrada próximo a Paraty. Começava assim o segundo dia de nossa aventura...

Paso de Los Libres, 16/05/00. 8:00h, seriam 751 km até Buenos Aires debaixo de muita chuva e fortíssimo ventos. Muitas foram as vezes que tive de brigar com o volante para manter o carro na pista. A chuva aumentava e quanto mais quilômetros percorríamos, menor o tráfego na Ruta 12. Uma rodovia federal totalmente deserta a menos de 80km da própria Capital Federal era uma situação preocupante e digna de filmes de catástrofes. Às 21:30h Buenos Aires era uma cidade fantasma totalmente alagada, lutando contra as intempéries tento manter o carro andando rumo ao centro da capital.


Derrepente o limpador de pára-brisas deixa de funcionar. Paro num posto de combustíveis, o reparo é apenas um aperto na porca que segura a haste. Para me certificar pergunto ao frentista a respeito do endereço que tinha anotado em um papel... A resposta: "Você vai sair aqui do posto fazer os 500mts até a passagem por baixo daquele viaduto, seguir reto até o final da rua e vai estar na avenida Nuñez". Exatamente a um quilômetro e meio de nosso destino do dia. Coincidência? Não sei, mas no dia seguinte soubemos que nesta noite foi decretado estado de emergência pela tempestade.

Rio Colorado, 28/06/00. 7:00h, este é um minúsculo povoado à beira da estrada bem no meio do deserto. Pela latitude e época do ano ainda era noite, e que noite! Céu totalmente estrelado, lua cheia e uma fina camada de gelo cobria tudo o que víamos refletindo o luar. A sós, com muito frio ganhamos a estrada cruzando um deserto azul prateado de purpurina e tendo a lua como destino. Lá pelas 8:30h ainda era noite e a lua estava se pondo bem ao final da pista, como um tesouro ao final do arco íris. Esta é uma imagem que não vamos esquecer nunca.


Pouco depois do nascer do sol, lá pelas 9:15 da manhã, seguíamos pela planície em pleno deserto quando em um declive entramos num denso nevoeiro que congelou ao chocar-se com o pára-brisas. A visibilidade não ultrapassava os 5 metros. O vidro se tornou translúcido, puro gelo. Paro no acostamento e em 10 minutos, passa ao lado uma enorme carreta, também completamente cega. Refeitos do susto só pudemos continuar depois de raspar o gelo com um canivete.

Em Bariloche no dia seguinte à nossa chegada o carro simplesmente congelou e assim ficou por três dias. Depois de chamar um mecânico com um guincho conseguimos fazer o motor funcionar. Após longa conversa ele me passou alguns maçetes para dar a partida nestas situações. Certamente este foi um período de muitas novidades e aprendizados...

Durante o ano que durou esta viagem conhecemos vários lugares, amizades foram feitas e muitos amigos reencontrados. De certa forma, sempre agradeceremos a todos que nos acolheram, colaboraram e acreditaram em nós.




Ficou curioso? No site http://www.rbrafting.com.br/ em "Expedição Patagônia" você encontra mais fotos.





















A volta? Bom, esta fica para uma outra história...